segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Bob Dylan resumido em Seis Alter Egos

O diretor Todd Haynes de Velvet Goldmine (1998) e Longe do Paraíso (2002) decidiu mais uma vez usar a música como tema para seu filme, Não Estou Lá (2007). Dessa vez, a vida do cantor e compositor Bob Dylan é descrita como filme e documentário. Só que o documentário é feito com atores. O interessante do filme é que Haynes divide as fases e características da vida de Dylan em seis personagens distintos: Jack Rollins/Pastor John (Christian Bale), Jude (Cate Blanchett), Arthur (Ben Whishaw), Robbie Clark (Heath Ledger), Billy (Richard Gere) e Woody (Marcus Carl Franklin). Palmas para Blanchett que interpretou muito bem um papel masculino, para Bale que soube muito bem interpretar o sotaque e o jeito de Dylan, para Ledger que interpretou de um jeito fantástico a fase sentimental de Dylan, para Franklin que além da atuação, cantou e tocou bastante bem, para Gere que mostrou sua maturidade diante da atuação e para Whishaw que soube passar o jeito mais poético de Dylan. Vou querer falar de cada personagem e quais fases da vida de Dylan eles representam. Para quem não é fã de Bob Dylan, o filme parece ser meio sem sentido, por isso eu aconselho que você leia uma biografia básica antes de vê-lo.

Woody Guthrie: Um garoto prodígio na música. A história começa com ele pegando um trem levando seu violão com ele. Woody, interpretado por Marcus Carl Franklin, representa a fase inicial da carreira de Dylan em relação à música. Para os fãs dele, devem já ter sacado o sobrenome do garoto: é tirado de Guthrie de quem Dylan era devoto. Dylan conhece Guthrie já doente e em um hospital. Repare que é com esse personagem que ele é socorrido e levado para o hospital. O trem que ele pega no começo representa sua ida ao rumo da música. É também nessa fase que o cantor muda seu nome várias vezes até chegar em Bob Dylan.

Jack Rollins: Então, é introduzido ao espectador uma nova fase da carreira de Dylan: Jack Rollins, interpretado por Christian Bale, representa a fase que Dylan se tornou um defensor dos direitos humanos e compositor de várias músicas que criticavam a sociedade na época. É nesse período que ele conheceu a cantora Joan Boez (Julianne Moore) e fez vários shows com ela. Jack foi responsável pela fase mais clássica da carreira de Dylan em relação ao Folk. Milhões de pessoas o adoravam e ele era a inspiração para várias bandas e cantores folk na época. Porém, Jack sentiu que a mídia estava se utilizando de sua fama e, em um discurso, falou das comparações entre ele e o assassino de John Kennedy, Lee Harvey Oswald, de uma maneira que atingiu a mídia. Depois dessa, Jack Rollins sumiu. Ele voltou a aparecer no final do filme com o nome de Pastor John, que representa a fase que Dylan se converteu ao Catolicismo e que chegou a lançar dois álbuns gospel.

Robbie Clark: Interpretado por Heath Ledger, ele representa a vida amorosa do cantor e seu interesse pela indústria cinematográfica. Repare que Robbie atua como Jack Rollins em um filme; isso quer dizer que o próprio Dylan interpretou ele mesmo e sua vida complicada. Robbie, entretanto, é um fracasso. Isso mostra que Dylan não teve sucesso com o cinema. É nessa fase também que mostra o quanto Dylan queria ter uma família, seu lado caseiro e mulherengo.


Jude Quinn: Essa é a fase mais interessante da carreira de Dylan, interpretada por Cate Blanchett. É com esse personagem que a fase Folk-Rock surgiu nas músicas dele e como seus fãs o odiaram por isso, chegando a chamá-lo de Judas. Jude também representa o conflito de Dylan com a imprensa, principalmente com o personagem Keenan Jones que volta a aparecer para outro alter ego de Dylan, Billy, como Pat Garrett. Jude é a fase que Dylan se encontra com os Beatles e com o poeta Allen Ginsberg. Blanchett dá um show de atuação e para muitos fãs do cantor, ela foi quem mais bem representou o ícone do folk. O humor negro e a rixa entre Dylan e a mídia deixa o filme mais interessante para que não é fã do cantor. Depois da confusão, Jude morre representando a passagem para a próxima fase do cantor.

Billy Parker: Um fazendeiro que fora cantor um dia e esteve longe dos palcos. Interpretado por Richard Gere, ele representa a fase que Dylan parou com a música por um tempo, indo viver no campo para ter um pouco de paz. Ele é pego pensando em seu início de carreira quando se encontra de relance com Woody. Depois de um bom tempo, Billy decide pegar o trem para fugir da prisão, que representa a vida sem a música, para recomeçar sua vida musical.


Arthur: Esse personagem, interpretado por Ben Whishaw, não é fixo como os outros, mas parece estar conectado a todos, aparecendo sempre durante o filme. Ele representa a parte poética do cantor que sempre o acompanhou por toda a vida. Ele é os pensamentos de Dylan.



Há várias pistas no filme que mostram que os seis personagens são a mesma pessoa como na parte em que Jones procura saber mais sobre Jude Quinn e acha um livro sobre ele. Na foto, não é Blanchett mas sim Christian Bale, representando a era Jack Rollins. Na cena que Billy se encontra com Woody é como se ele estivesse se lembrando do passado e sentindo falta. E dentre outras.

Enfim, o filme é genial. Acho interessante como Dylan é retratado brilhantemente sob a forma de seis personagens com histórias diferentes. Para quem é fã de Bob Dylan, esse filme é obrigatório. E para quem gosta de estudar biografias de artistas, ele é, sem sombra de dúvidas, o melhor filme sobre a vida desse cantor.

Nota Final: 8,5

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